quinta-feira, 21 de outubro de 2010

vida

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Diz a sabedoria popular que um ser humano só tem uma vida completa quando planta uma árvore, escreve um livro e tem um filho.

O lance é que, principalmente hoje em dia, plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho não requer nenhuma habilidade especial. Para falar a verdade, dá muito mais trabalho derrubar uma árvore, ler um livro e evitar ter filhos. Essas é que deveriam ser consideradas as verdadeiras realizações de uma vida.

Plantar uma árvore é de longe a mais fácil das tarefas, até passarinho faz. Aliás, faz cagando. Mas quem mora em uma cidade grande sabe como é difícil derrubar uma árvore. Já é difícil até encontrar alguma árvore para ser derrubada. E quando você consegue uma árvore para derrubar, como no caso da mangueira que estava bem no local onde meus vizinhos queriam construir uma piscina, vi que é preciso esperar semanas por um processo altamente burocrático na prefeitura. E eles ainda tiveram que contratar uma equipe especializada. E depois cortar tudo em toquinhos pequenos, pro caminhão de entulho levar. Deu para sentir o trabalho? Bem mais complicado do que comer uma manga e enterrar o caroço.

E escrever um livro? Convenhamos: qualquer babaca pode fazer isso. Eu fiz, ora bolas! E para isso só precisei relatar o que me aconteceu em uma semana de viagem a portugal. Tem mamata mais fácil? Pior que tem! E eu conheço nego que nem precisou “escrever” um livro para “ser autor” de um livro. Dois anos fazendo um blog com “piadinhas de Photoshop”, uma compilação dos melhores momentos em cerca de 70 páginas e pronto! Um livro! Com ISBN e tudo!

Agora, ler um livro... isso não é mole. Eu não estou falando sobre simplesmente ler a sequência de palavras que formam frases, as frases que formam parágrafos e os parágrafos que formam capítulos e os capítulos que formam um livro. Isso qualquer um faz. Refiro-me a entender plenamente o sentido de tudo que foi ali escrito. Cara, dá um trabalho... Para vocês terem uma idéia, eu me meti a ler “O Capital”, de Marx, quando estava na oitava série. Não entendi lhufas (mas na época achei que entendi algo). Cinco anos de intensos estudos depois (tá, nem tão intensos assim), voltei a ler o mesmo livro na faculdade. Que diferença!. Eu me eduquei anos e estudei a porra do livro durante um semestre inteiro: passei com um medíocre 6. Já para escrever o meu livro, demorei menos de 3 meses. E, se me perguntassem, afirmaria que prefiro escrever outro a encarar mais um período de eliminar matérias.

Os filhos nem discuto. Olha para a fila da farmácia e veja quantas pessoas estão comprando camisinhas, pílulas, diafragmas e etc. Depois veja quantos estão comprando hormônios de fertilidade. Manter uma vida sexual ativa e garantir que você não está fabricando um herdeiro é, de longe, a tarefa mais difícil das três. São bilhões de espermatozóides tentando a vida e você tem que se certificar que absolutamente nenhum vai conseguir cumprir a sua missão. E não existe criatura mais tenaz do que um espermatozóide. Garanto que quando você goza no chuveiro, seus espermatozóides nadam o sistema de esgoto inteiro procurando qualquer coisa para fecundar. Eles sabem que estão no lugar errado, mas não perdem a esperança e continuam nadando, tentando a sorte.

Uma vida verdadeiramente realizada não é para qualquer um. Praticamente para ninguém. Mas me lembrei agora do “Contador”, um amigo de faculdade que tirou 10 (e em todas as matérias). Esse está no caminho certo para ter uma vida completa. Acho que o mais difícil mesmo vai ser a árvore, já que evitar filhos não é um grande problema para quem perde uma noite de sexta tentando entender o que Marx escreveu naquela merda de livro.

eu


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